sábado, 27 de dezembro de 2008

seca e deserto

Olhei para os últimos posts, estão secos. Tenho que acrescentar algum AV. Mandem-me coisas divertidas.

Docente: emprego ou profissão

Pode ser exactamente a mesma coisa, mas normalmente não é. Como comparação falo dos enfermeiros, acho até que têm os mesmos ordenados que os professores: mas os enfermeiros têm, grande parte deles, dois ou três empregos diferentes; podem sair de um turno de oito horas nas urgências de um hospital e fazer mais oito horas seguintes numa viatura do INEM (aquelas amarelas que passam sempre em excesso de velocidade) - podem andar em excesso de velocidade e acumular vários turnos seguidos. Devem existir estudos feitos sobre esta situação e a sua capacidade de atenção e concentração nestas alturas (os professores não podem dar mais de seis horas de aulas seguidas - deve ser muito mais esgotante que atender doentes). Já não falo dos médicos que andam sempre fora de horas, por acumularem uma bateria de funções em diferentes hospitais, clínicas e consultórios. Mas há que dizer também: os médicos e enfermeiros têm lugares para dormir durante os períodos de trabalho, o que só se justifica por terem turnos sucessivos.
Os professores também podem acumular, tudo bem. Mas os enfermeiros não levam trabalho de casa e os médicos só levam trabalho para casa por pretendem progredir na carreira e receber convites para congressos em sítios interessantes.
Chegado aqui tenho que dizer - conheço excepções a estas situações, bastantes e honrosas.
Excepção ou não, estes profissionais têm uma profissão, são médicos e enfermeiros, ponto final, parágrafo.
E os docentes: sim senhor, podem acumular funções, mas em que horário? uma vez que não trabalham por turnos? Explicações a quem? Se quem os conhece, são os alunos do seu próprio agrupamento, e este trabalho se encontra vedado por lei... é o mesmo que os médicos não poderem atender no consultório, doentes que estiveram no seu hospital... mas adiante: têm que dar resposta a todas as situações que se lhes deparam. Na educação as exigências, para além das aulas: colegas, alunos, pais, departamento, conselho executivo, avaliação... isto, assim, com estas coisas todas, é só um emprego, porque se não for só um emprego, fica tudo maluco...
Relativamente à educação e ensino, talvez se possa actualmente afirmar: não é uma profissão, é só um emprego, porque se fosse profissão, apareceriam outro profissionais para tratar do relacionamento com os encarregados de educação (o que se verifica com os médicos e enfermeiros), haveria outros técnicos para tratar da parte administrativa (o que sucede com médicos e enfermeiros), que tem um peso horário muito alto e ainda haveria alguém para supervisionar o funcionamento disto tudo, esta sim sujeita às pressões tradicionais: as cunhas, os presentes e as pressões partidárias.
Quando me pergunto a razão desta actuação governamental em relação à educação, só posso concluir o seguinte: são o grupo menos organizado das grandes estruturas profissionais; têm uma elevada percentagem de pessoal com idades elevadas; O actual elenco ministerial não conseguiu estruturar e implementar um modelo para as necessidades de registo e planificação nas turmas; é uma classe profissional com muita formação, e por isso, com um conhecimento administrativo e de gestão bem superiores às que revelam os elementos responsáveis por determinadas medidas.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Docente: cientista vs. artista

Li, num site de informação, uma opinião de alguém da hierarquia católica, em que se fazia referência à "arte" de educar, isto em tom de chamada de atenção, sobre a avaliação dos docentes.
Fiquei indeciso por um bocadinho de tempo e na minha cabeça foram-se definindo alguns aspectos, que quero partilhar sobre a dicotomia da educação: ciência ou arte?
Ao falar de educação ou de ensino de que falamos? Penso que se fale de forma mais ou menos consensual na modificação de comportamentos e atitudes, na aquisição de novas habilidades e competências, no alargamento do conhecimento. Há que considerar também a Pedagogia, a Didáctica, a Psicologia da Educação... a Sociologia da Educação, a Axiologia da Educação... estas sim, sem dúvida, são ciências. Considero, também quase como opinião unânime, que os educadores e professores têm um papel importante nestes processos.
Penso que a educação e o ensino têm uma componente artística, que se tem ou não tem, para interligar os conhecimentos científicos das diversas ciências relacionadas com o processo instrutivo e educativo e para os aplicar em novas situações. A esta "caldeirada" tem que se juntar a prática e a experiência.
Será arte ou ciência? Com o desenvolvimento da carreira docente, a prática aumenta e o esquecimento da teoria das ciências relacionadas também aumenta... também aumenta a falta de tempo para reflectir e para a formação..., o que conduz à falta de tempo para "sentir" o processo instrutivo/educativo de forma artística. Talvez aos 65 anos de idade só reste a prática, cada vez menos valorizada. E a prática não é nem ciência nem arte. É apenas experiência.

sábado, 13 de dezembro de 2008

O Mistério da Criação - a propósito do modelo de avaliação dos docentes proposto pelo Ministério da Educação

Iluminou-se uma pergunta à frente dos meus olhos: onde se inspirou o Ministério da Educação para criar o sistema de avaliação que propõe?
Diz-se que é idêntico ao modelo chileno, que dá provas de que não funciona há já alguns anos, mas não creio que tenha sido essa a fonte, pois tenho o elenco ministerial em consideração no que respeita a inteligência.
Mas a minha dúvida mantêm-se: como e de onde surgiu o modelo de avaliação de docentes proposto?
Acrescento ainda: quem (concretamente, em termos técnicos e não políticos) o criou?
Hoje em dia é pouco provável e até pouco científico criar instrumentos ou modelos sem serem fundamentados em estudos, em teorias e investigações e em exemplos concretizados. Por isso é de grande importância conhecer a génese das propostas do Ministério...
Ou será que não se baseou em nada destas coisas?

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Renovar o Ensino

Num passeio pela internet passei por um sítio chamado IM Magazine (http://immagazine.sapo.pt/por/index.html). Este sítio procura apresentar lufadas de ar fresco na perspectiva derrotista que quase todos manifestamos relativamente ao futuro, nas suas múltiplas dimensões.
Encontrei uma perspectiva interessante sobre o futuro da educação, como a "teoria da imersão", que desconhecia, a referência à multiplicidade de dimensões da inteligência, quase como oposição à memorização tradicional, a importância das emoções e dos afectos, o papel importante do corpo na aprendizagem formal, bem como a permanência do processo educativo ao longo da vida. para além da referência a trabalhos realizados e a autores.
Este texto é da autoria de Isabel Mendonça, jornalista.

Imersão vs Infecção

Programas inovadores na área de ensino preconizam a aplicação da “teoria da imersão”, contrariando o tipo de aprendizagem convencional (teoria do “ensino por infecção” de Herbert A. Simon). Com base na disseminação de uma enorme quantidade de palavras e fórmulas, para um grande número de pessoas reunidas numa mesma sala, e esperando que algumas dessas palavras e fórmulas possam ser infecciosas e que “contagiem” algumas dessas pessoas, podendo até afectar o seu comportamento futuro, o ensino por infecção baseia a sua avaliação em exames. Limitando-se a testar a extensão dessa “infecção”, faz depender os resultados, em grande parte, na qualidade dos professores e recursos. Contudo, este tipo de ensino raramente desenvolve a capacidade de definir e resolver problemas, a independência de pensamento e a colaboração entre alunos. Os alunos limitam-se a ser informados mas não formados.

As novas teorias de ensino apontam para a implementação da “teoria da imersão” (Simon, 1987). Neste tipo de ensino capitaliza-se a curiosidade natural dos alunos, estimula-se a formulação de questões e definem-se estratégias para responder às mesmas. Os alunos são orientados para analisar, sintetizar, criticar e, sobretudo, para criar e estimular o gosto pelo risco e espírito de iniciativa, aumentando a auto-confiança e elevando o padrão de qualidade da comunicação verbal e escrita. Assim, o aluno acaba por adquirir maior conhecimento do que aquele que recebe, pela pesquisa e envolvimento exigido nos trabalhos práticos desenvolvidos, ampliando assim a sua criatividade e auto-estima, capacidade de análise e síntese num ambiente estimulante de continua descoberta.

Escola do Futuro

Na Escola do Futuro de São Paulo, a escola é “um lugar onde os alunos podem construir os seus conhecimentos segundo os estilos individuais de aprendizagem que caracterizam cada um, onde em vez de filas de mesas e cadeiras ou carteiras, há mesas para trabalhos em grupo, sofás e poltronas confortáveis para leituras, computadores para a realização de tarefas académicas”, diz-nos Fredic M. Litto. Ele defende, tal como a teoria da imersão o faz, que a avaliação deve ser feita não dando ênfase à “memorização de factos ou à repetição de respostas “correctas”, mas na capacidade do aluno pensar e se expressar claramente, solucionar problemas e tomar decisões adequadamente”.

Litto reforça ainda a importância das inteligências múltiplas na formação e avaliação dos alunos, bem como a introdução das novas tecnologias de informação “pela capacidade de estimular eventos do mundo natural e do imaginário de forma a levar o aluno a perceber fenómenos que antes não faziam parte do ensino formal”. Contudo, o académico alerta para o facto de, neste novo paradigma, ser exigido ao professor o papel de “guia, parceiro na procura da informação e da verdade, aumentado a participação activa do aluno”.

Educar emoções

Inspirada pelo princípio de que “o optimismo e a esperança, tal como a impotência e o desespero, podem ser aprendidos” defendido por Daniel Goleman no seu livro “Inteligência Emocional”, em Portugal, a Proformar desenvolveu um Curso de Formação destinado a educadores de infância sob o lema: “Educador: um Modelo de Optimismo”, com o objectivo de reflectir sobre estratégias facilitadoras de um crescimento mais optimista desde as idades mais precoces, encontrar formas conducentes a uma melhor auto-regulação emocional e desenvolvimento de atitudes positivas e de confiança que, ao partirem do formador, consolidem o mesmo espírito na criança. Os destinatários do curso, Educadores de infância e Professores do 1º ciclo do Ensino Básico foram convidados a identificar problemas reais e, de seguida, através do processo de consciencialização, debate, pesquisa e partilha de informação, melhorarem a sua intervenção “promovendo assim, uma Educação de Infância alicerçada numa filosofia de vida positiva”.

“Mais importante do que aquilo que nos acontece é a forma como lidamos com isso”, diz Helena Marujo em Educar para o optimismo. De facto, desde cedo as crianças lidam com a frustração, a decepção, o medo e buscam a segurança ora nos pais, ora nos educadores com quem partilham grande parte do seu tempo. O professor ganha assim um protagonismo fundamental na formação básica dos jovens alunos, na capacidade de transmitir de forma positiva conhecimentos facilitadores de um crescimento confiante.

Educar as Emoções é, também, o que se propõe, há mais de uma década, o Nueva Learning Center em São Francisco. Na aula de “Ciência do Eu”, a matéria de estudo são os sentimentos, desde os próprios, numa perspectiva intrapessoal, aos que decorrem dos relacionamentos, numa perspectiva interpessoal. A estratégia inclui usar as tensões e traumas da vida das crianças como tópicos para a descoberta e trabalho das emoções. Questões como a dor, a segregação, a inveja e os desentendimentos catalizadores de agressão, são dissecados em aulas práticas sempre com o acompanhamento do professor. A Ciência do Eu, é um projecto pioneiro desenvolvido por Karen Stone McCown segundo a qual, “a aprendizagem não acontece isolada dos sentimentos das crianças. A literacia emocional é tão importante para a aprendizagem como o ensino da matemática ou da leitura”.
Nesta óptica, os alunos do ensino secundário elaboram em sala de aula jogos que promovem valores como a cooperação, sendo avaliados segundo o seu papel no grupo e confrontando emoções entre os seus pares. A abordagem estimula a observação não apenas do aspecto emocional, mas igualmente as reacções do corpo às emoções sentidas.

Na Austrália, em Sidney, temos outro bom exemplo. Foi criado um programa escolar pela Life Changing Experiences Foundation (Fundação das Experiências de Vida para a Mudança), que se denomina “Potentialize” (Potenciar), com diferentes módulos para crianças dos 4 aos 12 anos, que tratam de tópicos como o sucesso pessoal, auto-estima, obesidade, drogas e álcool, ultrapassar obstáculos, gestão de tempo, perseguição de objectivos, entre outros. Aulas como “Eu gosto de mim”, “Construtores de confiança”, “Menos Stress” ou o “Poder de escolher” traduzem bem os alicerces dos programas desta escola, desenhados por professores reconhecidos com o Prémio Nacional de Excelência no Ensino (National Excellence in Teaching’ Award), psicólogos ou gestores de sucesso.

O Papel do Corpo

Também o corpo, começa a ser olhado de forma diferente e enquanto canal privilegiado de transmissão e recepção do conhecimento. A dimensão corpórea, bem como a estrutura do espaço escolar, são novos paradigmas para uma nova era no campo do ensino. Com base nestes pressupostos, foi desenvolvido, no Centro de Formação do Concelho de Loulé, um trabalho de investigação sobre “Expressão Corporal na formação contínua de professores do ensino secundário”. O curso fez incidir o seu conteúdo na identificação e integração de fórmulas para minimizar o mal-estar do professor e a capacidade deste intervir junto do estudante, por forma a obter da sua parte uma maior motivação perante a situação de aprendizagem. Esta aposta numa formação alternativa para professores, levou à colocação em prática, na sala de aula, de técnicas de relaxamento, na utilização de actividades expressivas, nomeadamente dramatização de conteúdos e partilha de emoções, aprendidas durante a sua formação. Por fim, e não menos importante, concluiu-se que os “dilemas relacionais” dos professores relativamente à indisciplina, se resolviam com a introdução de estratégias expressivas e com atitudes decorrentes de um maior bem-estar do próprio professor, havendo uma maior motivação e conforto na aprendizagem por parte dos alunos.

Do corpo ao espaço

O Departamento de Educação Inglês do Reino Unido, decidiu apostar fortemente no programa “Building Schools for the Future”. O desafio consiste na reabilitação e renovação de todo o parque escolar do ensino secundário, no sentido da criação de espaços de aprendizagem inspiradores e completamente disponíveis para serem usufruídos por todos os cidadãos da comunidade. Neste programa, toda a comunidade é convidada a participar. Assim, podemos encontrar no site da BSF mensagens convidando alunos, pais, funcionários, docentes e autoridades locais a darem o seu contributo de forma pró activa. Tal é alcançado nomeadamente, pela promoção de debates sobre o que deve ser uma escola moderna, como deve ser construída, o que deve oferecer para que se torne mais atractiva, onde devem ser aplicados os fundos e quais as áreas que carecem de mais trabalho e atenção. O objectivo está bem definido: uma profunda mudança na experiência educativa, quer para os alunos quer para os professores, e ainda uma forte aposta na aprendizagem ao longo da vida que se estende a toda a comunidade sem excepção.

domingo, 30 de novembro de 2008

Professora, Professor, qual a sua opinião sobre:

Não sou fundamentalista, nem acho que as manifestações públicas de desagrado quanto a várias coisas, algumas pouco definidas, sejam a melhor "publicidade" possível ou desejável.
Nem é objectivo deste blogue defender os professores e as suas virtudes, assim como não se pretende evidenciar as suas fragilidades.
No entanto chegou-me um email, que apesar de excessivo, aponta as causas do mal-estar da classe docente de uma forma clara, mas que deverá ser analisado apenas de modo compreensivo, não interpretativo (aqui a história poderá ser diferente...) e que reproduzo abaixo.

Professora, Professor, qual a sua opinião sobre:
a. Coordenação de Departamento não remunerada;
b. Aulas de apoio não remuneradas;
c. Aulas de substituição não remuneradas;
d. Direcção de Instalações não remunerada;
e. Desenvolver actividades extracurriculares não remuneradas.
f. Visitas de estudo não remuneradas.
g. Reuniões fora de horas não remuneradas.
h. Reuniões à noite, fora de horas.
i. Ficar fechado na Escola horas sem fim, sem condições de trabalho, em vez de estar em casa a preparar as aulas.
j. Estar na Escola à espera que um colega falte - apontem uma outra profissão onde se passe o mesmo.
k. Que a Sra. Ministra obrigue a trabalhar mais horas e o agradecimento passe apenas por um obrigado cínico no Parlamento.
l. Que um colega de outra disciplina assista às nossas aulas.
m. Que as notas dos alunos que não querem estudar o impeçam de progredir na carreira.
n. Com o congelamento dos vencimentos e progressão na carreira.
o. Que a maternidade, morte de um familiar próximo o impeça de progredir na carreira.
p. Com o Estatuto do Aluno.
q. Com a diminuição da autoridade dos professores.
r. Com os insultos e agressões por parte de alguns alunos e respectivos Encarregados de Educação.
s. Com a destruição da Escola Pública.
t. Com a divisão da carreira em duas: titular e não titular colocando Professores contra Professores.
u. Com as cotas na progressão.
v. Com o péssimo ambiente de trabalho que se está a instalar nas Escolas.
w. Com o fim dos destacamentos.
x. Com os concursos por quatro anos.
y. Com o trabalho excessivo.
z. Com a permanência na Escola de 40 horas.
aa. Que os Professores se substituam aos Pais e que os Pais só sirvam para procriar.
bb. Que Professores tenham 10 Turmas, mais de 250 alunos e 1500 testes para corrigir por ano, para não falar dos trabalhos.
cc. …………………………………………

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Um Choque Tecnológico

Não sou adepto do arremesso de ovos, mas quando a tecnologia falha, continua a ser um recurso eficaz - fica por esclarecer qual o significado dos ovos: se o de um filho que não se quer que nasça, ou que se desenvolva, se apenas para ofender ou agredir... nem me interessa muito.
Sou é adepto das verdades que os mais recentes alvos de ovos se recusam ver.
Uma dessas verdades é o apregoado, como bandeira propagandista, "Choque Tecnológico". Explico: se numa sala de aulas já não cabem os alunos de uma turma, facto facilmente provado pelos contínuos problemas comportamentais criados, muito mais dificilmente caberão os mesmos alunos, mais um computador para cada dois alunos, o computador do "stor", o projector vídeo (eminente alvo número um do treino de tiro dos alunos) e o quadro interactivo.
É previsível que o "choque tecnológico" a médio prazo amplifique a falência de um sistema ou que prove a falta de conhecimento da "escola profunda" por parte de quem decide.
Se o "choque tecnológico" em curso sucedesse no automobilismo, o resultado seria este: mecânicos desajeitados a manusear ferramentas demasiado poderosas.


quarta-feira, 12 de novembro de 2008

As cascas da cebola - como têm os ogres - dito pelo Shrek acerca de si mesmo, ou a verdade verdadeira

De vez em quando sinto-me parte da família de um aluno, quando falo com a família sobre o processo educativo. Há famílias com quem os professores se sentem a "trabalhar em equipa", ou seja, apesar de não existir coincidência de metas educativas e mesmo, em muitas ocasiões, nas metodologias e estratégias seguidas na aula e ainda menos na forma de gerir comportamentos, sente-se que as divergências são apenas processuais e tolera-se sempre quase tudo.
No outro extremo, o professor é o vendedor que tem que "impingir" a importância da escola a determinados encarregados de educação.
São muitas já as famílias que se enquadram nestes dois grupos e estas são as "fáceis", mesmo sabendo que os professores gostam de representar um dos papéis e não se identificam com o outro - de certeza que não há dúvidas.
No meio há uma imensa maioria, só silenciosa quando perde a razão em praça pública; um exemplo: (já estou a esfregar as mãos de satisfação) no início de uma reunião de pais, a primeira intervenção de uns pais (pai e mãe presentes) apontou uma arma de destruição maciça a um aluno de etnia cigana - fez e disse *#?&%$# - ok, o menino não andou no jardim de infância, não sabe estar em grupo, mas para a sua família a Escola é a altura de aprender tudo isso... ok, o menino dá chatices no comportamento...
Alargada a discussão, a medo foram apontados outros meninos problemáticos, inicialmente sem nome, estando o menino de etnia cigana no centro de todas as acusações. Por não ser recém-nascido escolhi o momento certo para perguntar o nome dos outros meninos problemáticos. Tive os nomes como resposta, alguns encarregados de educação não voltaram a abrir a boca e o menino de etnia cigana foi deixado definitivamente em paz.
Conclusão número um: na Escola os pais projectam muitos problemas psicológicos próprios que deveriam ser deixados de fora.
Conclusão número dois: a inquisição continua a existir, no séc. XXI.
Conclusão número três: os pais fazem falta à escola, ou como disse alguém famoso que não recordo e por isso não cito, apenas refiro: os amigos devem estar próximos de nós, para podermos contar com eles quando necessário; os inimigos deverão estar ainda mais perto, para os podermos controlar. - Obviamente não estamos a falar de educação, mas quase parece.
E todos os outros?
Resposta: Não têm tempo, está sempre tudo bem com os seus educandos, têm auto-conceito académico muito debilitado, confiam na perspectiva de outros (mais um post no futuro - que se desenganem aqueles que julgam que estes elementos não se preocupam com os seus educandos).
Até.

sábado, 8 de novembro de 2008

todos diferentes, não, todos iguais - O Erro da Escola

A incapacidade de atender individualmente cada aluno, de disponibilizar a cada aluno aquilo de que efectivamente precisa, tem conduzido, particularmente na vigência deste elenco ministerial à verdadeira "massificação" do ensino, que traduzido em bom "professorês" significa igual para todos, pela incapacidade real, devido a situações também reais (de que poderei falar noutros posts) de atender as necessidades e especificidades de cada aluno.

Da Pixar, logo plagiado, mas disponível no site "You Tube" um bom exemplo do resultado da educação nas nossas escolas.


Ensino e Educação II

Uma outra perspectiva de enquadrar as incompetências encontradas na escolarização das crianças e jovens, pode ser estabelecida com as formas de relacionamento e de articulação, desarticulação, na maior parte das vezes, entre a escola e o meio familiar: as pontes que existem são apenas aquelas que fazem o transporte (físico) entre a escola e casa. Depois, em casa, a Escola é "descascada" se existe insucesso ou se na aparência há problemas na Escola - e, de uma forma geral, porque a família não viu e protege os seus, a culpa dos problemas pertence à Escola.
Se calhar a Escola tem que passar a convidar o CR7 para as reuniões para chamar os encarregados de educação, ou para dar importância à Escola.
Ou então, há que reconhecer o crédito à existência de complicações com os professores, que são também um chamariz de pais à Escola.
Se calhar os alunos e os encarregados de educação não conhecem bem o Estatuto do Aluno. Se calhar também não sabem bem quais são as funções da Escola.
Se calhar a própria Escola não sabe bem quais são as suas funções e objectivos.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Ensino e Educação

Tudo isto é polémico, eu próprio coloco as minhas reservas à linearidade daquilo que vou assumir.
Nos sistemas de ensino de muitos países desenvolvidos deixou de se ensinar e passou a educar-se. Ensinavam-se comportamentos e atitudes, Matemática, Línguas, Ciências, Artes, ensinava-se a Estar e a Ser de acordo com as expectativas de vida, definidas pelos professores e pela família.
As modernas pedagogias, ao contrário, relevam o desenvolvimento da personalidade individual, no respeito pleno pela individualidade e direitos dos demais.
Tem-se tido sucesso no desenvolvimento de crianças e jovens no que respeita à formação das personalidades individuais, mas tem-se falhado quanto ao respeito pelos direitos e deveres dos demais - entenda-se falta de educação, naquilo que se vê e se ouve na rua ou na escola - o outro, enquanto entidade com características distintivas, é só um meio para atingir um fim, ou, pelo contrário, não existe, apenas existe "o grupo" que se autoprotege.
No sistema de ensino tradicional, ou tendo como paradigma o ensino, a liberdade conquistava-se com resultados positivos e com o sucesso, de acordo com um plano de expectativas definidos à partida. Falhavam neste modelo aqueles que possuíam limitações "diferentes" e aqueles que não atribuíam qualquer mérito, ou possuíam expectativas desajustadas em relação ao seu futuro.
E hoje? Quem continua a ter sucesso? Aqueles que são ensinados a fazer as coisas certas, mesmo que com castigos ou uma palmada no momento certo. Será que falta apoio de psicólogos na escola, falta de formação dos professores, falta de apoio familiar?
Tenho as minhas convicções: basta falar com os pais para (superficialmente e com uma elevada margem de erro) perceber quem vai ter sucesso: aqueles que são ensinados pela família, que quando não sabe pede ajuda à escola, que ensina as suas crianças, inclusivamente, a não se deixarem agredir.
Comparem as escolas públicas "médias" com as escolas privadas, não têm que estar no topo dos rankings...

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Faz o que eu digo, não faças o que eu faço!

Frase muito batida e já gasta, mas ainda, e por longos anos, muito actual, a começar pela política educativa e a acabar em casa com os pais. -Isto merece um daqueles posts em que se mostra muito, até um bocadinho da careca... mas fica para outro dia.
Vale a pena ver o vídeo (que certamente já viram), ou rever e integrar na própria consciência daquilo que é ensinar e educar ---- ah, ah, palavras nucleares: ensinar e educar, tão distantes que estão... - ficam para mais tarde, o professor tem que estudar em casa...

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Jovens e Livros



Estamos quase lá! Resta-nos a esperança de que a leitura seja efectivamente descoberta.

Os mais professores de entre os professores.

Não considerando ninguém em particular, os professores de 1º ciclo são o grupo profissional a que é atribuída maior responsabilidade, uma maior carga de trabalho directo e maior carga horária total.
São estes professores quem mais tem sentido os efeitos (negativos) da reforma educativa em curso. É bom que se compreenda que a tentativa de reforma educativa em curso não tem tido idênticas consequências para todos os níveis de educação.

Pare, Escute e Leia

Ilustres bloguistas, surfistas da net, professores, pais, curiosos, todos os outros

Quero dizer que acredito na educação formal e académica de Portugal. Digo-o porque, depois de ter reflectido sobre as publicações anteriores deste blogue, é bem possível que o efeito cognitivo e afectivo da informação compreendida por quem leu as últimas mensagens, seja muito negro para a escola pública portuguesa.
Alto: deixo dito que considero que temos um dos melhores sistemas educativos do mundo, mas gangrenado em alguns locais.
O primeiro deles - aqui vou ser diferente - prende-se com a ausência de meios, de independência financeira e política e de profissionais com perfil psicotécnico ajustado às funções a desempenhar na IGE (Inspecção Geral da Educação).
Largada a bomba, passo a explicar sumariamente a minha perspectiva:
Até ao presente, a Inspecção Geral da Educação - A INSPECÇÃO - os inspectores, são os maus da fita (salvo honrosas excepções) e muitos inspectores, por diversos motivos, encarnam efectivamente personagens assustadoras e castigadoras, quase como inquisidores. Mas no fundo, a sua perspectiva, ou personagens a dever ser encarnados pelos inspectores, é muito mais formativa e correctiva, no sentido de facilitar e ajudar a corrigir os erros existentes nas escolas (agrupamentos). - Apenas não se pode voltar a cometer os erros já cometidos.
Com esta perspectiva, é possível reconhecer escolas, professores, auxiliares e famílias, como os alunos preguiçosos e cábulas, que se "baldam" e "cabulam" sempre que possível, de professores que se "encostam" sempre que podem.
Apesar desta imagem, quero dizer que a realidade não é muito escura, por mais que tentem encobrir a luz do sol. Também é verdade que na família dos professores há os parentes muito ricos, os primos ricos e os primos pobres. Há quem mereça o dobro do ordenado que tem e há quem deveria pagar para aceder ao estatuto social que (ainda) possui.
A segunda gangrena no "corpo" da educação, deverá estar localizada na relação entre a Escola e a Família: (aqui vou ser breve, o aprofundamento ficará para mais tarde) existe uma permanente atribuição mútua de responsabilidades - a Escola deveria garantir a segurança de ...; - os Pais pensam que a educação dos seus filhos é responsabilidade da Escola ...
Em terceiro lugar, a gangrena que é a quase total ausência de contacto entre as políticas educativas e os profissionais da educação - não pretendo dar razão a nenhuma das partes, uns porque estão muito longe da escola real, outros porque estão demasiado envolvidos. Qualquer político, mesmo os de mais baixo nível e de capacidades intelectuais mais limitadas dirão que os professores são ouvidos... De acordo, mas não têm peso nas decisões e esta é a gangrena.
Paro aqui. Amanhã logo se vê.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

terça-feira, 28 de outubro de 2008

A bárbara deseducação

http://scapegoat.blogs.sapo.pt/3923.html

É um fruto maduro do nosso processo educativo normal. Respeitável, se se der ao respeito.

Alvin e Heidi Toffler comentam o Sistema de Educação actual.

Não é tempo perdido. (Clique no título deste post)

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Onde estamos e para onde vamos? O que fomos já não interessa.

De educar a deseducar vai uma linha bem definida ou uma linha imperceptível? Se calhar as duas. Ou se calhar não? Achei que sabia, agora não tenho a certeza...