quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Argumentos de cinema (título enganador)

Tenho ouvido, tenho sentido, tenho criado alguns silêncios em redor da minha presença. Levei bastante tempo a compreender - a sensibilidade pode ser pouca, mas a inteligência é quanto baste.
A minha actual condição (excepcional), por pertencer (...e apenas este ano) a um Conselho Executivo, tem desenvolvido um "falar" a meu respeito, absolutamente normal, pelos aspectos positivos e pelos menos positivos. Achei que por por ter aparecido de um entre iguais, ser uma função de duração muito limitada, me aliviariam de alguns constrangimentos e falatórios. Aliás, há quem não me considere habilitado a realizar qualquer acção ou a decidir qualquer coisa... refiro-me em particular a alguns auxiliares: quando a primeira cara do Conselho Executivo que aparece é a minha, perguntam pelos restantes elementos - agrada-me, livra-me de dizer que ainda não sei e de ter que descobrir a solução a curto prazo.
Primeira avaliação do cargo: a ideia agradou-me pela possibilidade de intervir naqueles aspectos que poderiam ser melhorados ou corrigidos e que estavam identificados. Redondo engano. Começo pela parte fácil: quando se espreme uma semana de trabalho num Conselho Executivo, (a perspectiva é alargada - conversei com colegas de outros agrupamentos), não sai sumo de um fruto doce, não sai nada - sobra a sensação de não se ter produzido nada produtivo, excepto quando o tempo é dedicado a projectos específicos (é comum a colegas de Agrupamento e de outros agrupamentos).

Esta prosa surge a propósito de uma descoberta, ou seja, de um aviso de uma colega: descobri que há outro Bruno com as minhas funções, que terá que ser um "clone" (inventado - um Bruno inexistente ) meu, que não age, porque alguém não deixa, que faz o que alguém manda para se segurar ao lugar no futuro próximo ... Diz uma coisa e depois faz outra...
Pum!!! Eureka!!! Depois das confissões de uma colega amiga que preferiu não assumir a questão publicamente, cheguei a uma conclusão: vou continuar a fazer exactamente como tenho feito.
-- É verdade, nunca se agrada a todos, mas tenta-se. E todos sabem que aquilo que tem que ser dito, é efectivamente dito, "chova onde chover".
Isto pode levar à conclusão de que aquilo que não me é dito directamente, ou não é importante,
ou há falta de confiança, que tenho tentado lançar em todas as direcções (umas mais que outras...). A minha avaliação no presente ano é o mais pequeno dos meus problemas, SIADAP2, alguém conhece?
Ainda acerca da minha avaliação, como já disse atrás, noutro post, foi-me, uma vez, claramente dito, na formação inicial, que, como professor, eu não era igual aos outros, mas a dúvida final apenas se prendeu com a nota a atribuir (tive uma nota boa...no fim).... muitos anos depois, uma colega da professora titular de turma, onde fiz o estágio final, me perguntou quantos anos tinha levado para conseguir trabalhar bem, dei apenas uma resposta amiga (porque apesar dos "desdizes" estamos sempre a protegermo-nos uns aos outros) - é preciso tempo e confiança, de colegas, pais e alunos. Acrescentei que continuava a aprender todos os dias e a estar atento ao que faço e ao que observo nos outros.
Estou para aqui a escrever, mas cheguei à conclusão de que pouco tenho contribuído para o argumento (desculpem, título deste artigo). No fundo isto pode ser resumido em poucas palavras. Somos severos críticos, quando não estamos implicados. Somos muito tolerantes e permissivos quando estamos implicados.
Ligado a argumentos de cinema? Sim e sempre, na nossa realidade. De um simples movimento, quem queira, consegue extrair conclusões ilimitadas. Já que gosto de ficção, vou apresentar uma possibilidade, e como português, se tiver um bocadinho de picante, melhor.
História inventada:
O João era professor numa escola, numa escola das novas, que a Câmara vai construir, com sete turmas de primeiro ciclo e três de Jardim de Infância. Era professor de uma turma de 22 alunos, dois dos quais apoiados a tempo parcial por uma professora de Educação Especial. (não falo de traços físicos porque na maioria das vezes até são pouco significativos). João e Maria (acabámos de baptizar a professora de Educação Especial) trocavam com frequência opiniões, materiais, perspectivas acerca dos alunos. Ninguém tem dúvidas de que no contexto desta troca de informação, eram apresentadas visões pessoais sobre diversificados assuntos. Assume-se o facto de uma conversa puramente técnica durar trinta minutos, mas estarem em discussão durante sessenta minutos.
Que representa isto?
- Manel - quero lá saber!
- Margarida - dão-se bem e os alunos têm evoluído.
- Mário - dão-se bem os dois e o Manel gosta de ter a Maria por perto...
- Manuela - algum de vocês conhece a mulher do João? Tem um feitio complicado...
- Nuno - ... e a Maria tem um feitio e uma paciência infinita, além de ser o número do João... já falei demais.
... isto leva a múltiplas conversas particulares, e o "acrescenta um ponto" aplica-se a todos os comentários que vamos, naturalmente, proferindo.
Estes comentários, críticas, "tesouradas" não significam que não se gosta da pessoa, nem sequer do trabalho que realiza, porque, se for necessário, até poderá ser a primeira a pessoa a oferecer-se para ajudar. -- é muito português.
O que quero deixar, para bom português que não lê, escreve, vê filmes decentes, vai ao teatro... é que tomem a consciência de que o resultado dessa situação (não posso chamar defeito) é a existência de uma maior tendência para introduzir factos onde apenas pode haver especulção.
(Não acuso qualquer falatório a meu respeito, profissional ou pessoal, nem de pessoas próximas, reflicto apenas sobre aquilo que é comum no nosso país).
Agradeço encarecidamente que discutam esta problemática.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Efeitos Educativos de um Mundo Global

Todas as pessoas (pessoas, não falo dos animais iguais a pessoas, eh, eh), não precisam de estar sequer muito perto da educação, têm a noção clara de que uma das principais estratégias de aprendizagem é a imitação: filhos imitam os pais, alunos imitam os professores, amigos são iguais aos amigos... é mais ou menos consensual, excepto quando se procura ser exactamente o contrário (mas não é por aqui que quero ir).
E num mundo global, em que tudo se sabe por não se poder fugir ao que não se quer saber, por razões de auto-preservação, aprende-se a seleccionar; e num mundo social, onde ninguém quer estar isolado, aprende-se a ser semelhante àquilo que agrada aos cinco (ou seis) sentidos. É a música e os ídolos decadentes, é a cultura do corpo... é-me difícil arranjar um exemplo mediático, relacionado com a escola e a educação (aceito sugestões) que agrade a uma maioria das crianças...
Há ainda o desporto, razão - saúde. Começo pelo futebol: o incontornável CR7, que não sei se sabe ler fluentemente, não sabe expor ideias quando fala, é genial a jogar à bola, tem muitas namoradas esculturais, mas que se embebeda, que contrata prostitutas, conduz em excesso de velocidade e tem montes de massa. É um dos grandes modelos da população escolar. As raparigas: a Naide Gomes, trabalha que se farta, consegue muitos bons resultados, mas poucos ligam, além de que não deverá acabar a carreira rica.
Falemos de outras actividades desportivas, a Natação por exemplo. Tenho dois filhos que nadam duas horas por dia, cinco dias por semana, são alunos suficientemente bons para o ensino que têm, (elá!!) e que adoram a Natação; aliás os amigos são os da Natação e só pontualmente os da Escola. E para esta minoria - quase todos alunos acima da média - quem é o modelo? Presentemente, e mesmo antes dos Jogos Olímpicos, o Michael Phelps, que já vai com treze ou catorze medalhas olímpicas e ainda poderá subir a contagem daqui a três anos, ainda tem idade para isso. Neste belo pano caiu a nódoa e descobriram-se outras antigas: fumou droga e foi apanhado com excesso de alcóol no sangue enquanto conduzia, com dezanove anos.
É imprevisível a consequência para bons alunos, aplicados, sem muito tempo para televisão ou jogos de computador, porque treinam Natação todos os dias, a informação, o conhecimento de que o seu modelo, o super-atleta, que come mais que a maioria, que treina mais que a maioria, modelo internacional de virtudes... continua a ser imbatível, mesmo bebendo em excesso e consumindo droga. Ninguém liga ao facto de ter uma compleição física ímpar, com mais de um metro e noventa, de ser uma excepção, como a é o CR7 - todos podem ser iguais aos seus ídolos nas partes fáceis: nos comportamentos incorrectos.
Do outro lado está muito trabalho, que ninguém quer...
Que pode ser dito aos nossos alunos, aos nossos filhos? Talvez que não queiram ser muitos bons em nada!!! Porque nestas condições estamos no trapézio sem rede...
Tenho pena, mas atrevo-me a utilizar o termo "censura", apenas porque já não há limites naquilo que é mostrado, nesta sociedade tudo é exposto até ao cansaço, poderei chamar a esta forma de informar, "pornográfica"?